9 de mai. de 2016

Com pitadas de criatividade, culinária vegetariana quebra tabus

“A falta de nutrientes não vai te fazer mal?”, “Você não enjoa de comer só isso?”, “Mas, afinal, você come o quê?”. As maneiras de perguntar têm lá suas mudanças, porém, se declarar vegetariana (o) é um prato cheio para o costumeiro interrogatório de tabus. 
Por Carolina Alves

O vegetarianismo ainda é visto sob camadas de estigmas, que classificam o hábito alimentar como monótono, restrito e insuficiente em nutrientes.

Em contrapartida, a crescente no número de adeptos à dieta no Brasil mostra que a conversa é outra. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em 2012, 8% dos brasileiros declaravam-se vegetarianos. O número girava em torno de 15 milhões de pessoas.

Há seis anos, a produtora de televisão, Priscilla Cabett, faz parte desse grupo. Ela conta que tomou a decisão enquanto cozinhava carne para os amigos durante férias na praia. Preparando o alimento, sentiu empatia pelas semelhanças que identificava entre ela e os animais. “Pensei bem forte nisso e parei de comer”, lembra.

O motivo que levou a produtora a adotar um novo estilo na cozinha é comum aos vegetarianos. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, a ética de não colaborar para o sofrimento dos animais está entre uma das razões pelas quais as pessoas aderem a essa mudança. Além disso, a preservação dos recursos naturais, o cuidado para evitar o desperdício dos alimentos, a espiritualidade e a proteção da própria saúde também fazem parte da lista.

Assim que se abriu a essa nova possibilidade, Priscilla já notou as diferenças. “A palavra para a mudança, tanto do corpo quanto da mente, é leveza”, descreve. De fato, uma rápida pesquisa por opiniões nos sites especializados indica o equilíbrio como um dos efeitos principais do processo. Ou seja, corpo são, mente sã.

Não só de salada vive um vegetariano

Engana-se quem pensa que o vegetarianismo oferece nada mais que cabeças de alface. A culinária vegetariana, na verdade, exige algumas pitadas de criatividade e inovação na hora de lidar com os alimentos. (Re)Descobrir temperos, ingredientes e receitas rendem diversão a um hábito que atualmente é frio e calculado (ou inexistente), o de cozinhar.

Com Priscilla não foi diferente. “Eu acabei me interessando por uma culinária mais saudável quando parei de comer carne e parece que você dá importância para as coisas que já comia. Você lembra da variedade de coisas que encontra para comer”, reflete. A produtora também recorda que se dedicou a procurar frutas novas para somar no cardápio, como o mangostim e o abiu.

Além disso, valem as combinações e substituições para os pratos tradicionais. Que tal um quibe assado de quinoa e ricota para a entrada? Um nhoque de mandioquinha recheado com gorgonzola na manteiga de ervas para o prato principal? E um sorvete de paçoca de sobremesa?

Nas aventuras culinárias, Priscilla aposta, com frequência, nos cogumelos, queijos, no alho e na cebola. Para ela, os alimentos de sabor mais forte são grandes aliados para contrastar com outros mais leves. Inclusive, na dieta vegetariana, até mesmo os temperos recebem toques de originalidade. A produtora partilha o gosto pela massala, combinado de especiarias indianas. A iguaria é dividida em dois tipos, podendo ser usada para pratos quentes e saladas. Hortelã, shoyu e cominho são mais alguns exemplos.

Depois de tantas informações entregues de bandeja, é hora de colocar quebrar alguns tabus colocando a mão na massa e tendo um bom apetite.