Atualmente, os municípios contam somente com Casas de Longa Permanência, associações e pouco apoio do poder público
O Dia Internacional do Idoso é comemorado no dia 1º de outubro, mas as ações, programas e projetos voltados à população idosa deveriam ser presentes e constantes nas cidades. Isso porque o Brasil caminha para ser um país de idosos. Entretanto, será que estamos prontos para comportar as necessidades deste público?
Por: Hyanne Patricia
O Brasil está envelhecendo rápido e caminhando para ser uma
nação envelhecida, é o que aponta o Relatório Mundial de Saúde e
Envelhecimento. Segundo o estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) em setembro do ano passado, 30% da população brasileira será constituída
por idosos até 2050. Em todo o mundo, a população idosa representará 22% da
população.
Hoje, 23 milhões de idosos brasileiros são assegurados pelo Estatuto do Idoso, criado em 2003, que prevê direitos e prerrogativas a esse público. Porém,
isto está longe de promover uma melhor qualidade de vida ao idoso, como destaca
o Dr. Tiago Salvador, diretor do Lar São José e do Conselho Municipal do Idoso,
de Guaratinguetá. “A parte de estatuto, apresentação prioritária, benefícios...
Esse mecanismo do Governo, bem ou mal, funciona. Mas o primeiro contato de
atendimento básico é o que falta”.
Essa afirmação é refletida no relatório Global Age Watch Index,
também de setembro do ano passado, que mostrou o Brasil na 56ª posição no
ranking dos melhores lugares para se viver na terceira idade, de 96 países
avaliados. Para Dr.
Tiago,
os pontos mais falhos para essa situação são o sistema previdenciário e
precariedade na infraestrutura:
— Primeiro, temos um sistema previdenciário precário, que não funciona. E agora vamos pegar Guaratinguetá como exemplo. Em Guará temos hoje 4 casas de longa permanência sem fins lucrativos. As 4, se não estão com a capacidade máxima preenchida, estão próximas de lotar; nós aqui temos apenas uma vaga. Agora nacionalmente, se você aplicar esse crescimento da população idosa dentro da realidade da infraestrutura que possuímos, não tem casa para abrigar todo mundo, não temos um aparelho público exclusivo para os idosos.
Este último fator é lembrado, também, pela Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). A instituição vem mostrando
visível preocupação com o presente e o futuro dos idosos no Brasil, destacando
a necessidade de uma rede própria de atendimento e atenção à saúde do idoso.
Jeane Gonçalves, enfermeira com experiência em Casas de
Longa Permanência, acredita que essas falhas e carências decorrem da falta de
conscientização. “A gente percebe que há uma dificuldade em entender o
envelhecimento. Muitos se esquecem que um dia também serão velhos”, diz. Dr. Tiago acrescenta que há também a falta de vontade
política. “Você tem uma demanda, isso é inegável. Mas dizer que não tem
dinheiro para investir eu acho difícil. É questão de planejamento”.
Questionado sobre o que precisa mudar para o Brasil melhorar
a qualidade de vida do idoso, o doutor insiste:
— Precisamos de espaços próprios para o idoso, direcionado a toda população idosa, que proporcione diariamente tanto atendimento de saúde, quanto saúde intelectual, entretenimento, cultura e lazer. Porque, na maioria dos espaços de entretenimento, é necessário ser um associado. As casas de longa permanência não dispõem da possibilidade do idoso ir e passar o dia. Então acaba que, se a pessoa não tem condições de se associar a algum clube ou associação, ela fica em casa ou vai para o vício alcoólico ou fica em praças jogando dominó. Nada contra, mas esses idosos não precisam estar ali. Então falta um equipamento público, aberto 100%, para inserir esses idosos que não se encaixam nas associações que já existem e nas casas de longa permanência.
