29 de out. de 2013

A luta qua não pára

Por: Lucas Daniel

Na mão um cabo de madeira. Noutra um arame. Juntam-se os dois. Aliado, o pandeiro e a maraca (instrumento indígena. Uma cabaça seca do qual se obtém um som – tipo chocalho); e as palmas em tom harmônico de todos reunidos em roda. Começa a ginga: paranauê, paranauê, Paraná...
A história da capoeira no Brasil, descende dos negros, vindos da África no século XVI, quando Portugal tinha esta terra como colônia. A mão de obra escrava era sobretudo, a forma dos senhores de engenho obterem seus lucros, sem a preocupação do pagamento legal aos trabalhadores das grandes fazendas. Diante de toda a situação deplorável da época, os homens da senzala, proibidos de realizar qualquer tipo de manifestação, visto que muitos em estado de fraqueza eram levados para o tronco além da prática de outros tipos de castigos severos, o que os levou a desenvolveram suas habilidades da dança africana e em cima dessas findarem alguns golpes marciais – surgia assim a capoeira, importante instrumento na luta da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.
Praticada em terreiros próximos às senzalas, a dança satisfazia a necessidade dos negros, culminados pelo cansaço das grandes produções a que eram submetidos e ainda para a conservação da própria manifestação cultural. A luta ocorria geralmente em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão, eis a origem do nome.
Até os anos de 1930, ficou proibida qualquer movimentação do tipo no país, pois era vista como ato violento e de subversão – indignação. Em momento oportuno mestre Bimba, importante capoeirista brasileiro, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas, este, por sua vez, agraciado com os movimentos declarou a arte marcial como esporte nacional.
São três os estilos aplicados de acordo com o ritmo musical de acompanhamento. O mais antigo deles e criado na fase bruta da escravidão, é a capoeira angola. Com um musical mais lento, de maior proximidade com o solo e exposto a malícia nos golpes. O estilo regional, que mistura a malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, destilado de golpes secos e ligeiros, ao som do berimbau. O terceiro e último é o contemporâneo, que une um pouco da angola e do regional e é o mais praticado atualmente. 
Em 15 de julho de 2008, em reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do HIFAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em Salvador – Bahia, a capoeira, após 300 anos de história no Brasil, foi reconhecida como Patrimônio Cultural brasileiro.
Um dos grupos que levam o nome do esporte adiante na atualidade é o ABADÁ-Capoeira, (Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte da Capoeira), organização sem fins lucrativos com sub-sedes espalhadas por todo o país e pelo mundo. A genialidade dos mestres, graduandos e alunos, faz com que a categoria dentro da arte marcial seja propagada com um toque totalmente abrasileirado. 
Fundada em 1988 por Mestre Camisa, José Tadeu Carneiro Cardoso e com sede no Rio de Janeiro, conta com mais de 5 milhões de membros distribuídos nos estados da nossa nação, e também em mais de 53 países, e se distingue das outras organizações de capoeira pelo seu estilo, padrões e filosofia. 
Na região, um dos nomes fortes do ABADÁ é o graduando (denominação do integrante com certo tempo no grupo) e professor de capoeira Fernando Nascimento da Cruz (29), o Ferrugem. No grupo há 15 anos, o instrutor é atual campeão mundial na categoria viola – melhor corda roxa – e campeão brasileiro, na categoria B, além de campeão paulista. Exemplo de perseverança no esporte, Ferrugem ministra aulas nas cidades de Aparecida e Potim, e vive exclusivamente da capoeira. “Ralei muito pra chegar até aqui, hoje posso dizer e comemorar os títulos que são frutos de muito trabalho árduo e de horas de treinamento conjunto”, ressaltou. Fernando salientou a importância do patrocinador na caminhada, visto que o poder público é omisso em relação ao apoio a todo tipo de esporte a não ser o futebol. “É necessário dar uma resposta ao governo. Nós atletas, não temos aporte em nada, graças a Deus tenho meus parceiros, pessoas que acreditam no meu trabalho do qual posso retribuir, de acordo com os treinamentos diários e extensos, e, devido às turmas de alunos que possuo, do qual retiro o sustento da minha família”, finalizou.
Ferrugem atualmente é patrocinado por uma academia do município de Aparecida, a Happy Day e pela Sara’s Perfumaria. Convidado especial da comunidade Abadá-Capoeira do México o graduando foi ao país ensinar a arte da luta para milhares de alunos, e retribuiu com carinho o convite. No mês de setembro último, o capoeirista participou do programa “Esquenta”, da Rede Globo, a convite da produção; Programa este apresentado por Regina Casé, aos domingos, do qual houve um encontro de praticantes da arte capoeira de várias partes do Brasil.