Por Audrey Jales
20 centavos. Esse foi o preço da gota d’água que fez transbordar o ‘copo da insatisfação’ dos brasileiros em meados do ano passado. Tal aumento na tarifa do transporte coletivo em São Paulo, a maior e mais rica cidade do país, que oferece este serviço de forma precária e de baixa qualidade aos seus usuários, desencadeou em todo país, inclusive em cidades do interior do Brasil como em Guaratinguetá - SP, uma série de manifestações que reivindicavam principalmente maiores investimentos no setor de mobilidade urbana nas cidades.
Quase um ano depois das manifestações a situação em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro e também na pequena cidade do interior do estado paulista não parece ter mudado muito. O que se vê hoje é um transporte ineficiente e ineficaz que gera insatisfação aos que dependem do transporte coletivo para ir e vir do trabalho, escola e também do lazer.
Gabriele Kiane, aprendiz do Banco do Povo, depende de ônibus para ir e voltar do trabalho todos os sábados e diz estar insatisfeita com o serviço prestado pelas concessionárias do transporte em Guaratinguetá. “Eu gasto cerca de uma hora dentro do ônibus pra percorrer uma distância nem tão longa assim.
Quando eu volto do serviço é ainda pior, deveriam colocar mais ônibus”, diz a aprendiz, enquanto espera em pé no ponto de ônibus no centro da cidade em pleno sol da tarde. Lilian Ramos, também aprendiz, da empresa TagPlan, que usa o serviço todos os dias diz que a situação não é diferente nos dias de semana. “Nos horários de pico, devia ter mais ônibus pra atender à demanda que existe na cidade”. As duas, por serem aprendizes, possuem o direito da gratuidade da passagem e por isso tem que entrar pela porta traseira do ônibus. Elas dizem que diversas vezes já tiveram que esperar no ponto de ônibus pela próxima condução, pois como o veículo encontrava-se com sua capacidade máxima elas não conseguiram entrar.
| Gabriele Kiane e Lilian Ramos aguardam ônibus debaixo de sol. Foto: Audrey Jales |
No mesmo ponto de ônibus, ao aproximar-me de outra usuária para pedir que falasse sobre o serviço do transporte em Guaratinguetá, fui surpreendido com a seguinte frase: “Tem certeza que quer me entrevistar? Eu odeio esta empresa de ônibus!”. “Ótimo”, eu respondi a ela. Gisele dos Santos, professora de história em uma escola de São José dos Campos, cidade a 90 km de Guaratinguetá, disse passar diversas horas dentro do transporte todos os dias. “Tenho que sair da minha casa as 8:30 da manhã, pra pegar o ônibus na rodoviária de Guará pra São José as 9:30. Chego em São José quase ao meio dia, o que me dá tempo suficiente apenas para comer alguma coisa antes de entrar em sala de aula ao meio dia e meia”. Ela diz ainda que se pegar o próximo ônibus para cidade onde trabalha, que seria uma hora mais tarde, chegaria atrasada e por isso tem que sair 4 horas antes de iniciar sua jornada de trabalho. “Você paga uma tarifa cara e não tem qualidade nenhuma no transporte. Além disso, os ônibus são sujos, estragados, sem ventilação e sem banheiro”, completa a professora. Quando questionada se já havia passado por alguma situação constrangedora ou desagradável durante uma de suas viagens ela respondeu: “Eu já passei por uma situação horrível que eu precisava ir ao banheiro e o motorista teve que parar em Aparecida, pois o ônibus não tinha banheiro. No dia seguinte mandaram um ônibus com banheiro, mas foi apenas um dia, porque houve uma reclamação” e diz ainda que várias pessoas da cidade dependem do serviço pra chegar em seus destinos e que ela é apenas uma entre centenas de pessoas que passam por isso todos os dias na cidade.
A verdade é que podemos registrar são terminais sujos e sem lugares suficientes para todos se acomodarem, ônibus velhos e diversas pessoas tendo que ‘brigar’ por um lugar pra sentar dentro dos ônibus, principalmente nos horários de pico. É o caso de Ivonete Caldas, comerciante de flores no mercado municipal de Guaratinguetá, que diz: “Outro dia, eu estava a 5 metros do ponto de ônibus e dei o sinal para que o motorista parasse, mas acho que como o veículo já estava cheio, ele não parou pra mim. Se fosse uma menina de blusinha e shortinho ele teria parado. É uma vergonha o transporte desta cidade”, termina a senhora.
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| Sessão da Câmara Municipal de Guaratinguetá. Foto: Diego Galdino |
