1 de abr. de 2014

Transporte público ainda gera insatisfação em Guaratinguetá

Por Audrey Jales

20 centavos. Esse foi o preço da gota d’água que fez transbordar o ‘copo da insatisfação’ dos brasileiros em meados do ano passado. Tal aumento na tarifa do transporte coletivo em São Paulo, a maior e mais rica cidade do país, que oferece este serviço de forma precária e de baixa qualidade aos seus usuários, desencadeou em todo país, inclusive em cidades do interior do Brasil como em Guaratinguetá - SP, uma série de manifestações que reivindicavam principalmente maiores investimentos no setor de mobilidade urbana nas cidades. 
Quase um ano depois das manifestações a situação em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro e também na pequena cidade do interior do estado paulista não parece ter mudado muito. O que se vê hoje é um transporte ineficiente e ineficaz que gera insatisfação aos que dependem do transporte coletivo para ir e vir do trabalho, escola e também do lazer. 
Gabriele Kiane, aprendiz do Banco do Povo, depende de ônibus para ir e voltar do trabalho todos os sábados e diz estar insatisfeita com o serviço prestado pelas concessionárias do transporte em Guaratinguetá. “Eu gasto cerca de uma hora dentro do ônibus pra percorrer uma distância nem tão longa assim.
Gabriele Kiane e Lilian Ramos aguardam ônibus debaixo de sol. Foto: Audrey Jales
Quando eu volto do serviço é ainda pior, deveriam colocar mais ônibus”, diz a aprendiz, enquanto espera em pé no ponto de ônibus no centro da cidade em pleno sol da tarde. Lilian Ramos, também aprendiz, da empresa TagPlan, que usa o serviço todos os dias diz que a situação não é diferente nos dias de semana. “Nos horários de pico, devia ter mais ônibus pra atender à demanda que existe na cidade”. As duas, por serem aprendizes, possuem o direito da gratuidade da passagem e por isso tem que entrar pela porta traseira do ônibus. Elas dizem que diversas vezes já tiveram que esperar no ponto de ônibus pela próxima condução, pois como o veículo encontrava-se com sua capacidade máxima elas não conseguiram entrar. 
No mesmo ponto de ônibus, ao aproximar-me de outra usuária para pedir que falasse sobre o serviço do transporte em Guaratinguetá, fui surpreendido com a seguinte frase: “Tem certeza que quer me entrevistar? Eu odeio esta empresa de ônibus!”. “Ótimo”, eu respondi a ela. Gisele dos Santos, professora de história em uma escola de São José dos Campos, cidade a 90 km de Guaratinguetá, disse passar diversas horas dentro do transporte todos os dias. “Tenho que sair da minha casa as 8:30 da manhã, pra pegar o ônibus na rodoviária de Guará pra São José as 9:30. Chego em São José quase ao meio dia, o que me dá tempo suficiente apenas para comer alguma coisa antes de entrar em sala de aula ao meio dia e meia”. Ela diz ainda que se pegar o próximo ônibus para cidade onde trabalha, que seria uma hora mais tarde, chegaria atrasada e por isso tem que sair 4 horas antes de iniciar sua jornada de trabalho. “Você paga uma tarifa cara e não tem qualidade nenhuma no transporte. Além disso, os ônibus são sujos, estragados, sem ventilação e sem banheiro”, completa a professora. Quando questionada se já havia passado por alguma situação constrangedora ou desagradável durante uma de suas viagens ela respondeu: “Eu já passei por uma situação horrível que eu precisava ir ao banheiro e o motorista teve que parar em Aparecida, pois o ônibus não tinha banheiro. No dia seguinte mandaram um ônibus com banheiro, mas foi apenas um dia, porque houve uma reclamação” e diz ainda que várias pessoas da cidade dependem do serviço pra chegar em seus destinos e que ela é apenas uma entre centenas de pessoas que passam por isso todos os dias na cidade. 
A verdade é que podemos registrar são terminais sujos e sem lugares suficientes para todos se acomodarem, ônibus velhos e diversas pessoas tendo que ‘brigar’ por um lugar pra sentar dentro dos ônibus, principalmente nos horários de pico. É o caso de Ivonete Caldas, comerciante de flores no mercado municipal de Guaratinguetá, que diz: “Outro dia, eu estava a 5 metros do ponto de ônibus e dei o sinal para que o motorista parasse, mas acho que como o veículo já estava cheio, ele não parou pra mim. Se fosse uma menina de blusinha e shortinho ele teria parado. É uma vergonha o transporte desta cidade”, termina a senhora. 
Sessão da Câmara Municipal de Guaratinguetá. Foto: Diego Galdino
É por causa de tanta reclamação em relação ao transporte na cidade, que aconteceu no último dia 20, na Câmara Municipal da cidade, uma sessão marcada por protestos contra as mudanças na lei de concessão do transporte coletivo da cidade, como mostra fotos abaixo. Agora nos resta esperar e ficar atentos ao que vai acontecer.