Por Beatriz Nery
E
viveram felizes para sempre. Fim. Fim? Nem sempre, até porque quando
se lê um livro e assiste
a um filme
ou série, tem aquele personagem maravilhoso que, do nada, morre, ou
aquela mocinha tão fraquinha que, na sua concepção, ela poderia
ser um pouco mais forte em suas decisões. Tá esperando o quê para
escrever do seu jeito? É possível!Pois prepare-se para conhecer o mundo das fanfics. Um mundo mágico que existe há muitos anos na internet, por meio das comunidades virtuais e, sim, eu sei que você não sabia. Essa prática de letramento é muito comum dentro dos fandons (variação de kingdom, que aqui seria reino de fãs) que trabalham diretamente em um único segmento. Os mais comuns seriam Harry Potter e os diversos animes, dentre eles Naruto, Sakura e Cavaleiros do Zodíaco. Ainda está se perguntando em como isso é possível e até permissível, eu sei. Vou te explicar, ou melhor, os ficwriters vão.
“Eu
estava procurando material de Yami No Matsuei e
acabei encontrando um site onde tinha essa seção chamada Fanfics.
Quando acessei e comecei a ler, fiquei verdadeiramente interessada,
não sabia que existiam pessoas que escreviam histórias com base nas
tramas e personagens de outras pessoas. E foi aí que comecei a ler
tudo que havia naquele site, e acabei encontrando fanfics de Gundam
Wing, que é o fandom que mais me identifiquei até hoje”, relembra
BlanxeYui, pen
name de Anna Oliveira, professora de português no Rio de Janeiro,
RJ.
“Não
sei dizer exatamente quando
eu comecei a ler/escrever fics! Que loucura, é engraçado tentar
lembrar isso, parece que é algo que eu sempre fiz”, suspira
Mariana Felipe, estudante de sociologia, de Curitiba, PR, fã
enlouquecida de Sherlock Holmes.
As
fanfics, em seu início, estavam localizadas em comunidades virtuais
dentro de fóruns com um específico fandom.
Fóruns são locais de acesso restrito dentro dos sites destinados
aos debates e pesquisas incessantes sobre o determinado ‘objeto’
de adoração e, também, locais para fanfictions.
“Eu
participava do fórum da banda Panic! At The Disco em 2006 e era bem
ativa nos posts sobre a banda, suas músicas e os integrantes,
principalmente as características deles. Havia uma parte dentro do
fórum intitulada ‘Fanfics’ e resolvi clicar. Comecei lendo e daí
me interessei a escrever uma”, conta Thaís Kuceki, que era
conhecida no fórum pelo pen
name
de Fadinha, hoje é formada em Letras, trabalha em uma biblioteca em
São Francisco do Sul, SC.
Perceberam
algo em comum nas profissões das duas? Sim, elas lidam com palavras
e livros e não é a toa que se apaixonaram pelo mundo da ficção e
das fanfics.
O fenômeno das fanfics
se tornou em algo tão concreto que diversas autoras que hoje
participam do mercado editorial literário, e que possuem o titulo de
escritoras deixando para trás a alcunha de autoras, foram no
passado, não muito remoto, autoras de fanfics.
“Torço
para que o mercado literário preste muita atenção nos escritores
de fanfictions,
pois possuem escritores excelentes que já possuem fãs leais”,
comenta Kya Montsho, pen name de Natália Estevam, estilista, do Rio
de Janeiro, RJ.
Kya
e Blanxe moram no Rio. Blanxe foi a primeira ficwriter
nacional que Kya leu. “Tinha preconceito com as histórias
nacionais”, confessa, vendo que estava redondamente enganada.
Blanxe, que escreve fanfics dos animes Gundam Wing e Naruto leva o
leitor em suas histórias a universos totalmente distintos dos
originais.
GundamWing, produzida pela Sunrise, é um anime que trata da história de
cinco garotos que pilotam robôs (mobile suits) para lutar contra a
Terra, desgastada e com super população, a favor de seus satélites
artificiais, locais criados para que os humanos pudessem morar,
denominadas colônias.
Um
anime que traz ação e suspense, na cabeça de Blanxe, pode ser
transformado em histórias românticas com muita angústia, buscando
elementos da sociedade atual, como prostituição, situações
familiares e do trabalho.
Essa
relação online
dentro das comunidades virtuais é tão forte, que autoras e leitoras
se conhecem por anos e nunca sequer se encontraram ou cogitam isso.
Apesar de morarem na mesma cidade, Kya e Blanxe apenas se encontraram
duas vezes. Elas não se tratam como Natália e Anna, mas sim pelos
seus pen
names. “Conheço
outras autoras pessoalmente e nutrimos uma amizade forte e sempre nos
tratamos pelos nossos pen
names,
mesmo pessoalmente”, reforça Kya.
“A
maioria das pessoas não entendem as fanfics,
acha perda de tempo, sendo que é fato que a leitura constante ajuda
na escrita e quanto mais fics
você lê, mais você quer escrever e isso beneficia muito sua vida
acadêmica. Eu, por exemplo, consigo ler fics em inglês
tranquilamente agora, e se eu posso ler fics em inglês, posso ler
muita coisa em inglês!”, Mariana se vangloria.